Dicas de Estudo

Músicas inspiradas em obras literárias

Written by Bom Aluno Londrina

Para você que não dispensa uma boa playlist durante a leitura, este post é para você.

  • Amor I love you, Marisa Monte – O Primo Basílio, Eça de Queiroz

O romance burguês sobre o relacionamento extraconjugal de Luísa com seu primo Basílio publicado pelo português Eça de Queiroz, em 1878, rendeu várias adaptações para o teatro, cinema e música. Uma das músicas mais chiclete do início dos anos 2000 foi inspirada na obra: “Amor I Love You”, de Marisa Monte. Quem diria!

Se você é uma das pessoas que, assim como eu, ouviu essa música 180 mil vezes quando foi lançada e nunca tinha percebido que era uma referência ao livro, preste atenção aos versos que Arnaldo Antunes cita a partir da segunda metade da canção – trata-se de um trecho de O Primo Basílio:

“E Luísa tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!”

  • Don’t Stand So Close To Me, The Police – Lolita, Vladimir Nabokov

A história do professor universitário Humbert Humbert que fica loucamente atraído pela enteada Dolores, de 12 anos, é um dos livros mais controversos do século XX (que, a meu ver, é uma das obras mais pedófilas da literatura, que fique aqui registrado). A obra virou filme, dirigido por Stanley Kubrick, ópera, balé e foi adaptada para o teatro várias vezes. Não era de se espantar que a fascinação de H.H pela menina também virasse tema de música.

Em “Don’t Stand so Close To Me”, a banda britânica The Police faz menções diretas ao livro: “The accusations fly / It’s no use, he sees her/ He starts to shake/ And he starts to cough / Just like the old man in the / Famous book by Nabokov” ( As acusações voam / Não tem jeito, ele a vê / Ele começa / E ele começa a tossir / Assim como o velho / Famoso livro de Nabokov).

No início da canção há um trecho que diz: “This girl’s an open page/ Book marking – she’s so close now / This girl is half his age” (Esta menina é uma página aberta/ Marcação de livro – ela está tão perto agora/ Esta menina tem metade da idade dele). Apesar dessa também ser uma referência clara à Lolita, o narrador Humbert não tem o dobro da idade de Dolores. Nas primeiras páginas, ele diz que nasceu em Paris no ano de 1910. Se fizermos as contas com outras informações apresentadas ao longo da narrativa percebemos que ele tem 36 ou 37 anos. O que o faz três vezes mais velho que ela.

  • Admirável Gado Novo, Zé Ramalho – Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley

Se existisse um prêmio para homenagear o livro que mais foi citado em músicas, provavelmente Admirável Mundo Novo seria chamado ao palco para receber esse troféu. A distopia de Huxley em que as pessoas são organizadas em castas para viverem em harmonia, tranquilas e dopadas com Soma, a droga da felicidade, já serviu de base para várias músicas.

Lançada na ditadura militar, em 1979, “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho, é uma nítida referência à sociedade descrita por Huxley e, consequentemente, à nossa, que é de onde parte a crítica do escritor. Se pelo nome você não reconheceu, aqui vai uma dica: “Ê, ô, ô, vida de gado / Povo marcado, ê!/ Povo feliz!”. Reconheceu? Além do refrão icônico, o restante da letra é um grito necessário contra a alienação.

“Soma is what they would take when/ Hard times opened their eyes/ Saw pain in a new way / High stakes for a few names / Racing against sunbeams / Losing against their dreams” (Soma é o que eles tomariam quando / Tempos difíceis abrissem os seus olhos / Vissem a dor de um novo jeito / Riscos altos para poucos nomes / Correndo contra raios de sol / Perdendo contra seus sonhos), canta Julian Casablancas, vocalista do The Strokes, na música “Soma”. Como o próprio título entrega, a canção é uma alusão à droga que condiciona os cidadãos do futuro a uma falsa sensação de bem-estar, desprovido de criatividade, revolta ou inquietude.

A banda Iron Maiden também usou o livro como referência para seu décimo disco, inclusive o nome “Brave World” é homônimo do título da distopia de Huxley. No Brasil, também temos uma forte representante dos influenciados pelo universal Admirável Mundo Novo, a baiana Pitty. Com a imperativa “Admirável Chip Novo”, ela critica a robotização dos homens reduzindo-as a meros fantoches consumistas.

  • Caçador de mim, Milton Nascimento – O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger

Os dilemas do jovem Holden Caulfield, grande ícone dos adolescentes incompreendidos, também entraria nesse páreo hipotético de obra mais adaptada para música.

“Nada a temer / Senão o correr da luta / Nada a fazer / Senão esquecer o medo / Abrir o peito à força / Numa procura / Fugir às armadilhas da mata escura”, canta Milton Nascimento no disco homônimo à música“Caçador de mim”.

Também há várias menções ao livro na canção“Catcher In The Rye”, no álbum Chinese Democracy da banda Guns N’ Roses. Além do título, o refrão é uma citação direta: “Ooh the Catcher in the Rye again/ Ooh won’t let you get away from his gun / It’s just another day like today” (Ooh o apanhador no campo de centeio novamente / Ooh não o deixará fugir de sua arma / É só mais um dia como hoje). De tantas menções aos questionamentos de Holden, esta é uma música que poderia ter saído da mente de J. D. Salinger facilmente.

Falando em Salinger, é por ele que a banda Green Day pergunta na música“Who Wrote Holden Caulfield?” “There’s a boy who fogs his world and now he’s getting lazy / There’s no motivation and frustration makes him crazy / He makes a plan to take a stand but always ends up sitting / Someone help him up or he’s gonna end up quitting” (Existe um garoto que obscurece o mundo dele e agora está ficando preguiçoso / Não há motivação e a frustração o deixa louco / Ele tenta encarar de frente mas acaba desistindo / Alguém o ajude ou ele vai acabar desistindo). Quem será, hein?

  • 1984, David Bowie – 1984, George Orwell

O livro 1984 foi um dos grandes responsáveis por nos incutir a paranoia da falta de privacidade. Dada a força da narrativa, não é de se admirar que a obra seja habituè das listas de mais vendidos e tenha motivado tantas produções. Lembra do concurso imaginário de obra mais influente da música? Eis aqui outro grande candidato.

Em 1974, o livro de Orwell virou música de um titã tão grande quanto ele: David Bowie. A versão cantada no álbum Diamond Dogs é uma síntese da inquietação da utopia totalitária descrita em 1984.

Bowie não foi o único, o grupo britânico Muse compartilha de questionamentos semelhantes na música “Resistence”, que dá nome ao álbum. Nos versos “Is our secret safe tonight?/And are we out of sight?/Or will our world come tumbling down?/ Will they find our hiding place?/ Is this our last embrace? /Or will the walls start caving in?” (Será que nosso segredo está seguro esta noite? / Nós estamos fora de vista?/ Ou será que nosso mundo está desmoronando?/ Será que descobriram nosso esconderijo? /Será esse nosso último abraço? / Ou será que as paredes começam a desmoronar?), a banda remete ao personagem principal que, apesar de detestar o sistema, só começa a acreditar em uma possível rebelião ao ter um caso amoroso com Júlia, uma funcionária do governo tirânico. Os amantes mantêm o relacionamento escondido do Big Brother, o líder invasivo que espiona a população através de “teletelas”(televisões que funcionam como um espelho duplo) espalhadas em todos os lugares, públicos e privados.

Via SuperInteressante

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